Casos de picada de escorpião aumentam 250% no Brasil, revela estudo

Um novo estudo, divulgado na revista Frontiers in Public Health, revelou um dado alarmante: em menos de uma década, os casos de picadas de escorpião no Brasil aumentaram 250%. Especialistas alertam que a proliferação acelerada desses aracnídeos está diretamente ligada a problemas de urbanização desordenada e pode se transformar em uma crise nacional de saúde pública.

O crescimento exponencial das ocorrências

De acordo com a pesquisa, entre 2014 e 2023, foram registrados 1.171.846 casos de envenenamento por escorpiões no país. Se o ritmo atual se mantiver, a projeção é que, até 2033, esse número ultrapasse 2 milhões de vítimas.

“A real dimensão deste problema é provavelmente muito maior do que as estatísticas registradas sugerem”, destacam os pesquisadores. Muitas ocorrências não são notificadas, especialmente em regiões com menor acesso a serviços de saúde.

Urbanização desordenada e falta de saneamento

O aumento das picadas está relacionado a fatores como:

  • Acúmulo de lixo e entulho, que servem de abrigo para escorpiões.

  • Rede de esgoto precária, que atrai baratas (principal alimento dos escorpiões).

  • Expansão urbana sem planejamento, invadindo áreas naturais onde esses animais já viviam.

“O escorpião amarelo (Tityus serrulatus), espécie mais perigosa no Brasil, se adaptou perfeitamente ao ambiente urbano. Ele se reproduz por partenogênese (sem necessidade de acasalamento), o que facilita sua proliferação”, explica um dos autores do estudo.

Riscos para crianças, idosos e pessoas com comorbidades

Embora a maioria dos acidentes não seja fatal em adultos saudáveis, o veneno do escorpião pode ser letal para crianças, idosos e pessoas com condições pré-existentes, como problemas cardíacos. Os sintomas graves incluem:

  • Dor intensa no local da picada.

  • Vômitos e sudorese excessiva.

  • Arritmia cardíaca e edema pulmonar.

A recomendação médica é buscar atendimento imediato para aplicar o soro antiescorpiônico. No entanto, o acesso ao antídoto ainda é limitado no Brasil.

Falta de soro antiescorpiônico agrava o problema

Atualmente, o soro não está disponível em clínicas privadas – seu estoque é centralizado em um hospital de referência por região. Essa logística dificulta o tratamento rápido, reduzindo a eficácia do antiveneno.

“O soro age melhor quando administrado nas primeiras horas após a picada. Se houver demora, o veneno já se espalhou pelo organismo, aumentando o risco de complicações”, alertam os especialistas.

Cenário global: outros países também enfrentam o problema

O Brasil não está sozinho nessa crise. Países do norte da África, Oriente Médio, sul da Índia e América Latina também registram aumento expressivo de acidentes com escorpiões. As mudanças climáticas e o crescimento desorganizado das cidades são apontados como causas comuns.

O que pode ser feito?

Para reduzir os riscos, especialistas recomendam:
✅ Manter quintais limpos, sem acúmulo de lixo ou entulho.
✅ Vedar frestas em paredes e portas.
✅ Usar telas em ralos e evitar deixar roupas e sapatos no chão.
✅ Capacitar mais unidades de saúde para distribuir o soro antiescorpiônico.

Enquanto medidas preventivas não forem amplamente adotadas, o número de vítimas deve continuar crescendo. O estudo reforça a necessidade de políticas públicas eficientes para conter essa epidemia silenciosa.

Fonte: Frontiers in Public Health | Dados atualizados em 2024.